Trechos do release feito por Yasmine de Holanda:
Artista espalha obras pelas ruas de Florianópolis e promove reflexão sobre interações sociais e questões raciais
A proposta era instigar o público a refletir sobre interações pessoais, questões raciais, convivência com aquele que é diferente de nós. As obras também convidavam o espectador a ter um olhar afetuoso para o próximo, por meio de gestos que dizem mais que palavras.
Como Gugie tem uma trajetória importante no grafite, já era possível contemplar suas artes pela cidade. Mas desta vez foi diferente: as telas foram pregadas em muros e ganharam placas de identificação, assim como nas exposições realizadas em museus e galerias, em uma ação que aproxima os dois mundos da artista visual. A exposição ao ar livre durou quatro dias e segue online pelo Instagram do projeto até o dia 21 de setembro.
“Foi um movimento na cidade. Mesmo com toda a divulgação, muitas pessoas se depararam com minha obra sem querer. Fiquei feliz de levar meu trabalho para a rua, um espaço totalmente acessível, para que elas pudesse ter essa experiência. Só de ter tocado e atingido as pessoas próximas dos lugares onde coloquei cada obra já valeu a pena. A exposição foge da bolha, apesar de também atrair pessoas que já estão acostumadas a visitar espaços culturais e museus”, celebra a artista.
As obras foram recolhidas e agora passarão por uma pequena restauração e serão colocadas nos bastidores para então serem comercializadas pelo Instagram do projeto. Todas estavam em perfeito estado após quatro dias de exposição ao ar livre, o que também gera uma reflexão sobre os valores das obras e a relação do público com elas.
“Apenas uma placa de identificação sumiu. Foi um teste para mim. E se pegassem uma obra? Quem pegaria uma obra de arte? Possivelmente seria alguém que tem noção do valor dos trabalhos, que levaria para sua própria casa. Acho que tive coragem em cima dessas reflexões”.
Nas redes sociais foram divulgados os endereços onde cada obra estava exposta e muitos aproveitaram para fazer o percurso sugerido completo ou parte dele. A vernissage, evento que costuma anteceder a estreia de uma exposição, deu lugar a uma ação criativa na qual as primeiras 12 pessoas que postassem imagens de alguma obra no Stories ganhariam um kit com cervejas da Cervejaria Unika para poder celebrar em casa.
“Fiquei admirada pela forma como as pessoas acolheram a proposta. Legal também foi a maneira como eu me apresentei para aquelas que ainda não me conheciam e puderam me conhecer a partir desse trabalho, que carrega muita amorosidade, significado e questões importantes sobre a nossa sociabilidade”, comenta Gugie.
Artista aborda questões raciais pelo viés da gentileza e afeto
Em Gestos, Gugie retratou personagens negros e convidou o espectador a naturalizar a presença com felicidade e a dignidade das pessoas negras na cidade, já que propôs uma reflexão sobre a nossa sociabilidade.
“Eu não tenho como mensurar, mas acredito que muitas pessoas que passaram pela experiência vivenciaram um olhar amoroso sobre corpos e gestos entre pessoas negras. Puderam dialogar com essas imagens íntimas de afeto. Penso que devemos falar sobre humanização dos nossos olhares como um gerador de pensamentos gentis, com igualdade, dignidade e respeito. É a minha forma de lutar nesse momento tão delicado. É nítida a naturalização da violência de gênero e raça, e o pior, a naturalização do nosso sofrimento. Então em contraponto a gente tem que mostrar que somos seres humanos atingidos pelas construções históricas sociais e naturalizar a nossa dignidade. Também gostamos do cangote dos nossos filhos. Sentimos as peles que nos tocam caminhando lado a lado. Também temos afetos. A exposição espalhou gestos que precisam ser normalizados e considerados para repensarmos nossa convivência social”, finaliza a artista.